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Publicado: Quarta, 20 de Mai de 2020, 17h11 | Última atualização em Quarta, 23 de Dezembro de 2020, 22h17
GABINETE DE HISTÓRIA NATURAL DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA

O Gabinete de História Natural da Universidade de Coimbra foi fundado em 1772, ano da introdução da disciplina nos estudos superiores naquela Universidade. Ambas as medidas refletiam as reformas pombalinas de caráter ilustrado, cabendo ao naturalista italiano Domenico Vandelli, encarregado pelo marquês de Pombal de lecionar a nova matéria, a organização do gabinete. A instituição funcionava como “anfiteatro da natureza”, congregando o maior número possível de espécies de animais, plantas, minerais e artefatos das diversas partes do império. Além do caráter pedagógico e científico de auxílio aos estudiosos do mundo natural, configurava-se como um espaço cortesão, evidenciado pelo envio regular de remessas de espécimes por parte de administradores locais que buscavam com isso fortalecer seus laços nos círculos ilustrados da metrópole e com o próprio rei. Ao reunir a diversidade da natureza e dos povos do império, dava conta de sua magnitude e do poderio do soberano. A exemplo dos outros museus de história natural que se multiplicavam pela Europa setecentista, o da Universidade de Coimbra também adquiriu coleções de particulares, dando-lhes um caráter diverso. Enquanto as coleções particulares refletiam um gosto pessoal pelo entesouramento, os museus dos séculos XVIII, além de simbolizarem o poder das coroas e a extensão de seus domínios, eram espaço de investigação de uma ciência que então despontava. A parte mais significativa de seu acervo veio, entretanto, das viagens filosóficas promovidas pela coroa lusa em seus territórios ultramarinos. Durante essas viagens, os ex-alunos de Vandelli enviavam amostras dos três reinos da natureza.

 

GABINETE DO RIO DE JANEIRO

Ver GOVERNO DO RIO DE JANEIRO.

 

GABINETES OU BIBLIOTECAS CIRCULANTES

Acervos de livros que podiam abordar temas específicos ou variados, mas cuja peculiaridade residia em sua mobilidade geográfica periódica. Geralmente, as bibliotecas e gabinetes eram franqueados a um público restrito, com o objetivo tanto de controlar os frequentadores quanto o tipo de conhecimento a que se poderia ter acesso. Esses gabinetes ou bibliotecas tinham o traço comum de serem estabelecimentos de caráter, ao mesmo tempo, comercial e cultural, já que possibilitavam aos seus subscritores a leitura e/ou a locação de livros e periódicos sem a necessidade de compra, a exemplo da Casa do Livro Azul, que funcionou de 1828 a 1852 e onde os clientes poderiam comprar, trocar ou alocar livros pagando uma taxa. (Soares, Maria Angélica Lau Pereira. Visão da modernidade: presença britânica no Gabinete de leitura (1837-1838). Dissertação, USP, 2006). No início do século XIX, a presença de livros influenciados pelos ideais iluministas, assim como aqueles fruto de relatos de viagem ao Novo Mundo, conferia às bibliotecas e aos gabinetes um caráter mais moderno e atualizado nas questões do seu tempo, tornando-os igualmente mais atrativos.

 

GALERA
Desenho de uma galera a remo denomidada Real. Em: Denis Diderot; Jean Baptiste Lerond d’Alembert. Encyclopedie, ou, Dictionnaire raisonne des sciences, des arts et metiers, par une Societe de Gens de lettres. Paris: Briasson, 1751-1780. v.6/7, pl.2. OR 1896, Bib

Sob esta definição incluem-se algumas embarcações de propulsão a remo e vela. Também conhecido como galé, o termo designa navio esguio, atingindo até 150 metros de comprimento, e de baixo bordo, movido a remo, podendo dispor de velas para auxiliar na propulsão. Utilizada por gregos e romanos, desde a Antiguidade clássica, em sua marinha de guerra ou mercante, foi o principal navio empregado pelos europeus até o desenvolvimento da navegação oceânica, quando se tornaram obsoletos. Continuaria a ser operada, até o século XIX, em mares de ventos difíceis, em zonas costeiras e fluviais, devido a sua independência em relação às correntes de ar, principalmente para fins militares. Os remadores eram de diversas proveniências, sendo, sobretudo, escravos e condenados. Ser “condenado a galés” significava realizar trabalhos nas embarcações de mesmo nome e era considerada uma pena muito severa, devido às pesadas tarefas exercidas em precárias condições. Segundo a historiadora Paloma Fonseca, por volta do século XVII, “com o desuso desses navios, ser condenado a galés compreendia cumprir pena de trabalhos públicos, geralmente em docas e de caráter sazonal”.

 

GALÕES

Tiras entrelaçadas de algodão ou linho, por vezes bordadas em tear ou trançadas com fios dourados, para enfeite de roupas, ou aplicadas às fardas e bonés como distintivo para indicar a categoria de militares ou funcionários.

 

GAMA, PAULO JOSÉ DA SILVA (1779-1826)

Oficial militar, cavaleiro e fidalgo da Casa de S. M. Fidelíssima, almirante da Real Armada e Cavaleiro da Ordem de Cristo. Governador da capitania de São Pedro do Rio Grande, entre os anos de 1803 e 1809, foi incumbido de implementar a seção regional da Junta da Real Fazenda, como seu presidente, em substituição à antiga provedoria, no interesse de sanear as finanças da capitania. O período de Paulo José da Silva Gama é marcado por uma administração forte, sobretudo no que se refere ao trato dos conflitos com os espanhóis, e pelo aumento e equilíbrio das receitas da capitania. Foi também em seu governo que a capitania do Rio Grande de São Pedro foi desanexada da capitania do Rio de Janeiro. Durante os sete anos de governo no Rio Grande é condecorado publicamente como capitão-general da capitania e recebe o título de barão de Bagé. Além de suas atuações no sul, Gama foi nomeado governador do Maranhão de 1811 a 1819 e nomeado ministro do Superior Tribunal Militar, em 13 de janeiro de 1818.

 

GAMELA

Utensílio doméstico, presente na cultura material de povos indígenas e escravizados. Vasilha esculpida comumente em madeira macia retirada de árvores como a gameleira. A gamela pode ser redonda ou ovalada e é utilizada na alimentação das pessoas ou de animais de criação.

 

GANGA

Tecido resistente de algodão, em geral na cor azul ou amarelo, comumente empregado na produção de vestidos para as negras escravas. Na indumentária masculina, era usado para confecção de coletes, calções e macaquinhos.

 

GANGANELLI, GIOVANNI VICENZO (1705-1774)

Eleito papa com o título de Clemente XIV, em 1769, seu pontificado compreendeu o período de 1769 até o ano de 1774. Frade da Ordem dos Menores Conventuais, professor de teologia, diretor do colégio São Boaventura (1740) e consultor do Santo Ofício (1746), tornou-se cardeal em 1759. Como papa, ocupou-se da questão da extinção da ordem dos jesuítas, que se estendia desde o pontificado de seu predecessor, Clemente XIII. Diante da solicitação feita pelos Estados católicos, Clemente XIV extinguiu a Companhia de Jesus em 1773, por meio da bula Dominus ac Redemptor noster.

 

GARÇA

Também chamada talagarça. É um tecido cujos fios da trama e urdume são dispostos separadamente, dando a impressão duma tela de arame. É muito usada em bordados pela facilidade que apresenta à execução dos pontos.

 

Catálogo de gêneros naturais do Brasil, e de outras colônias portuguesas, ainda não comercializados pelo reino. S.d. 9 fls. Negócios de Portugal. Caixa 731, pct. 02

 

GENEBRA

Também conhecida como Zinebra, é uma bebida destilada, de alto teor alcoólico, cuja origem remonta ao século XVI quando seu consumo era popular nas tabernas holandesas. É produzida a partir da destilação de cereais e adição de especiarias, sobretudo o zimbro. No século XVIII, o consumo de genebra foi muito difundido no Nordeste brasileiro.

 

GENGIBRE

Zingiber officinalle, planta herbácea originária da ilha de Java, da Índia e da China, de onde foi distribuída pelas regiões tropicais do mundo. O gengibre foi um condimento bastante valorizado na Época Moderna, dadas as suas propriedades picantes. Foi amplamente utilizado pelos indianos e orientais e, posteriormente, na culinária inglesa, atribuindo-se a ele também propriedades medicinais anti-inflamatórias, hipoglicêmica, antibacteriana entre outras. No Brasil, o gengibre chegou logo após o descobrimento e se adaptou ao solo e clima locais, tanto que naturalistas europeus chegaram a considerá-lo uma planta nativa, pois era comum encontrá-la em estado silvestre.

 

GENTIL HOMEM

A expressão surgiu em Portugal, a partir de 1580, por influência holandesa na organização da corte espanhola, e indica nobres, fidalgos ou homens de boas famílias. Com o tempo, passou a associar-se a uma designação de cargo específico, como gentil-homem da câmara, ou gentil-homem de artilharia, posto militar que desapareceu por volta de 1707.

 

GENTIO

A designação foi empregada, ao longo da história da conquista da colônia, para se referir ao índio não cristão, àquele que não havido sido integrado na órbita colonial luso-brasileira. Gentio é um termo usualmente relacionado a “bárbaros”, “selvagens”, “bravos”, “gentio”, ou ainda “tapuia” sem muita distinção, contribuindo para a construção de um recurso jurídico visando a decretação de guerra justa, escravização dos índios e liberação de terras para os colonos. Em carta a Mem de Sá, em 1558, o rei recomenda que os colonos apoiem os jesuítas na tarefa mais importante da política real do Brasil, quer dizer, na conversão dos pagãos “porque o principal e primeiro intento que tenho em todas as partes da minha conquista é o aumento e conservação da nossa santa fé e conversão dos gentios delas”. Em Apontamento de coisas do Brasil (1558), Nóbrega se refere ao gentio como “de qualidade que não se quer por bem, senão por temor e sujeição, como se tem experimentado e por isso se S.A. os quer ver todos convertidos mande-os sujeitar e deve fazer estender os cristãos pela terra adentro e reparti-lhes o serviço dos índios àqueles que os ajudarem a conquistar e senhorear, como se faz em outras partes de terras novas, e não sei como se sofre, a geração portuguesa que entre todas as nações é a mais temida e obedecida, estar por toda esta costa sofrendo e quase sujeitando-se ao mais vil e triste gentio do mundo.” (Ribeiro, D. e Moreira Neto, C.A. A fundação do Brasil. Petrópolis: Vozes, 1992: 121)

 

GEOMETRIA

Parte da matemática que permite a conhecer o espaço, as grandezas, razões, proporções e suas formas, figuras e corpos que nele se podem conceber. A geometria foi de fundamental importância durante as grandes navegações ibéricas do século XV, sobretudo no que diz respeito à elaboração das tábuas de marear utilizadas pelos navegantes em suas aventuras por oceanos desconhecidos. Os navegantes passaram a usar, por exemplo, a altura do Sol e tábuas de efemérides astronômicas para se orientarem no mar do hemisfério sul tornando permanente o uso da trigonometria esférica. As ciências náuticas teriam por sua base a matemática. A obra de Pedro Nunes, matemático português que viveu no século XVI, procurou desenvolver métodos para se navegar em alto-mar através da geometria, além de dedicar-se à matemática aplicada na construção de mapas, ganhando o posto de cosmógrafo-mor do reino de Portugal.

 

GOA, DIU E DAMÃO
Mapa de importação de Goa para o Rio de Janeiro. 1810. Junta do Comércio, Agricultura, Fábricas e Navegação. Mapas de colônias portuguesas (Brasil e domínios) e de cônsules estrangeiros para Portugal, 1802-1822. AN RJANRIO 7X.CAI.448.1

Foram as maiores cidades do Estado português da Índia, grandes centros comerciais e polos receptores de gêneros e matérias-primas das outras regiões, a serem redistribuídos pelo Império luso. Embora os portugueses tenham se espalhado pela costa da Índia, foram essas as três regiões que permaneceram pontos ativos do império atlântico até o século XX (reconquistadas em 1961). Goa, a maior dessas cidades, situada na costa do Malabar, foi desde o século XV, a sede das possessões no sudeste asiático. Conquistada em 1510 por Afonso de Albuquerque, era uma região estratégica, cercada de áreas de produção agrícola, recebia a maior quantidade de navios e cargas de outros pontos da península e proporcionava aos portugueses o controle de comércio do oceano índico. Goa foi um dos vértices do comércio luso no Atlântico – assim como Luanda, Lisboa, Salvador e Rio de Janeiro – e, embora o comércio com as possessões lusas na Índia tivesse entrado em decadência a partir do século XVIII (devido aos grandes gastos com guerras para mantê-las e ao contrabando, que diminuía consideravelmente os lucros da Coroa), a cidade permaneceu o ponto forte de Portugal na região. Ao longo do período colonial, os navios carregados de tecidos e outros produtos “finos” (como porcelanas e especiarias) da Índia deixavam os portos de Goa em direção a Luanda e, depois de uma escala em Salvador, iam para Lisboa, onde chegavam praticamente descarregados. A maior parte desses tecidos era vendida diretamente para os comerciantes destas cidades (o que levou ao aumento de impostos e à proibição da escala no Brasil). Depois da abertura dos portos do Brasil em 1808, o comércio com Lisboa enfraqueceu mais ainda, já que os navios eram diretamente direcionados para a África e depois para o Rio de Janeiro, de onde seriam redistribuídos para o restante do Império. Diu e Damão, localizadas respectivamente na costa de Guzerate e no golfo de Cambaia (ambos parte da região do Guzerate), mais ao norte da costa ocidental, foram peças-chave, desde o século XVI, no fornecimento de gêneros para o comércio metropolitano, sobretudo de tecidos de algodão, os mais finos reservados para envio a Lisboa por Goa, e os mais grosseiros a serem exportados para Moçambique, em troca de marfim, âmbar, ouro, escravos, entre outros.

 

GOIÁS, CAPITANIA DE

Região localizada no centro-oeste brasileiro, já era conhecida pelos portugueses desde o século XVI. No entanto, seu processo de colonização iniciou-se apenas no final do século XVII, a partir das descobertas de minas de ouro por bandeirantes paulistas – com destaque para Bartolomeu Bueno da Silva, o Anhanguera, considerado o descobridor de Goiás. Entre 1590 e 1670, diversas bandeiras percorreram a região, vindas de São Paulo e, a partir de 1653, outras partiram de Belém pelo Amazonas e alcançaram a região dos rios Tocantins e Araguaia. Além de bandeirantes em busca de ouro e escravos, também jesuítas chegaram para catequizar, principalmente, os povos indígenas. Assim, em 1727 é fundado o arraial de Santana, que viria a se transformar na vila Boa de Goiás, próximo da fronteira com o atual estado do Mato Grosso. A exploração do cobiçado mineral na região ampliou as fronteiras ocupadas da América portuguesa, inicialmente com a chegada dos colonos de São Vicente, tradicionalmente berço de desbravadores e caçadores de riquezas, aos quais logo se seguiram reinóis e aventureiros de diversas capitanias. Índios chamados Goyazes habitavam a Serra Dourada e deram origem ao nome da capitania. Aparentemente, haviam migrado da região amazônica em tempos não muito remotos e juntaram-se a outros grupos em resistência às seguidas tentativas de extermínio e escravização pelos brancos que chegavam atrás do ouro. As “minas dos Goyazes” estiveram inicialmente subjugadas à jurisdição da capitania de São Paulo. No entanto, sua criação data de 9 de maio de 1748, quando a capitania de São Paulo foi desmembrada dando origem a três capitanias distintas: São Paulo, Mato Grosso e Goiás. Foi o segundo maior produtor de ouro durante o período colonial, depois de Minas Gerais. Mas observa-se também a existência de uma economia de subsistência para alimentar os mineiros e escravos que trabalhavam nas minas. Com o declínio da mineração, em fins do século XVIII, os goianos passariam a se dedicar a atividades agropastoris, exportando gado e seus subprodutos, além de algodão e açúcar, para as capitanias vizinhas do Norte e Nordeste. 

 

GOMES, JOSÉ AIRES (1734-1796)

Fazendeiro, proprietário de terras, filho de João Gomes, fundador do arraial que levou o seu nome, mais tarde recebeu o nome de Palmira e hoje Santos Dumont, Minas Gerais. Recebeu a patente de Coronel de milícias que a coroa portuguesa concedia a proprietários de terras e sesmarias, abastados, para manutenção da ordem e defesa do territorial nas adjacências das suas propriedades e auxiliou o alferes Joaquim José da Silva Xavier no combate e prisão de salteadores que infestavam a região da Serra da Mantiqueira, atacando tropas que transitavam no Caminho Novo. Subscreveu o requerimento em que vários proprietários e membros da comunidade do Arraial da Igreja Nova de Nossa Senhora da Piedade, atual Barbacena, pediam ao governador da capitania, visconde de Barbacena, a sua elevação à vila. Foi um dos Inconfidentes condenado ao degredo, em 1792, seguindo primeiramente para Ambaca, em Angola, e depois para Inhambane, em Moçambique, onde faleceu.

 

GONZAGA, TOMÁS ANTONIO (1744-1810)
Correspondência do vice-rei d. José Luís de Castro, conde de Resende, para a Corte, comunicando as sentenças dadas aos réus da Conjuração de Minas Gerais. Rio de Janeiro, 29 de maio de 1792. Negócios de Portugal.

Nascido em 1744, ganhou fama como poeta, em especial como autor de Marília de Dirceu e das Cartas Chilenas, sátira virulenta que tinha como alvo o venal governador de Minas Gerais na época, Luís da Cunha Meneses. O antagonismo entre Cunha Meneses e Tomás Gonzaga, aliás, bem demonstra o tipo de conflito que emergia na confusa e dinâmica região das minas, resultado de uma máquina administrativa que permitia a sobreposição dos interesses da Coroa, daqueles que ocupavam postos de funcionários desta e de indivíduos que apenas tencionavam explorar a riqueza da terra de forma privada. Ouvidor de Vila Rica, nascido em Portugal, mas criado no Brasil, era apontado como provável primeiro governante de um Brasil livre – ou antes, das Minas Gerais livre. Seus escritos por ele permitem entrever um pensador alerta, perspicaz, crítico da tirania de alguns monarcas, mas muito mais afinado com uma monarquia não-despótica do que com a democracia republicana dos norte-americanos. Foi um dos primeiros implicados no levante de 1798 (Conjuração Mineira), preso ainda no mês de maio e logo remetido para o Rio de Janeiro. Seus depoimentos pouco revelaram, sustentando até o fim que jamais ouvira falar em sedição alguma. Foi condenado a degredo em Moçambique, onde acabou por casar-se e reconstruir sua vida, terminando a carreira como funcionário da Coroa no cargo de promotor de defuntos e ausentes e advogado dos auditórios públicos.

 

GORGORÃO

Tecido encorpado de seda, de algodão ou de lã, com relevos compostos por finos cordões que formam uma trama semelhante a uma trança.

 

GOVERNADOR DAS ARMAS

Cargo criado por meio do decreto de 1º de outubro de 1821, após a Revolução do Porto, pelas Cortes portuguesas, a fim de melhor administrar e controlar a colônia. Cada província deveria ter um governador das armas, submetido às ordens do reino e independente das juntas provisórias. As juntas eram eleitas na localidade e exerciam o Poder Executivo com todas as suas atribuições, exceto a autoridade militar, da qual ficou encarregado o governador das armas, cargo subordinado diretamente a Portugal. Normalmente, o cargo era ocupado por generais que deveriam controlar e organizar as tropas, aplicar a justiça militar, bem como executar quaisquer outras atividades de âmbito militar. Estavam impedidos, porém, de interferir em outros assuntos da província e até mesmo nas eleições de soldados por ordenança. A função foi substituída pelo título comandante das armas em 1830, e no ano seguinte, extinta dos cargos militares.

 

GOVERNO CENTRAL DE ESPANHA

Em julho de 1808, Fernando VII, rei da Espanha, foi destronado por Napoleão Bonaparte e substituído por José Bonaparte, irmão mais velho do imperador francês. Durante seu governo (1808-1814), José I promulgou, em 8 de julho de 1808, o Estatuto de Baiona, cuja autoria foi atribuída a Napoleão Bonaparte. O documento colocava limites ao poder real, embora muitas decisões previstas nunca tenham sido aplicadas e visava, entre outros objetivos, assegurar o apoio das elites ilustradas espanholas, contando com alguns membros da Casa de Bourbon. Este foi o primeiro texto constitucional da Espanha, substituído, em 1812, pela Constituição de Cádiz.

 

GOVERNO DO RIO DE JANEIRO

A vinda da família real para o Rio de Janeiro, em 1808, ampliou a importância política e administrativa dessa cidade na América portuguesa. Com o retorno de d. João VI a Portugal, em meio à revolução liberal de 1820, aqui a regência de d. Pedro I se defronta com a elite política formada em torno da causa brasileira. Para esses segmentos dominantes de nascidos no Brasil, mais os portugueses ajustados às circunstâncias da colônia, o que interessava era a autonomia em relação a Lisboa, sem abrir mão da continuidade na ordem social e econômica estabelecida. As deliberações das Cortes revolucionárias, a partir de 1821, se mostraram inconvenientes ao “partido brasileiro”, dividido entre tendências conservadoras e ideias progressistas, mas nitidamente resistente à subordinação irrestrita do Brasil a Portugal. Nessas tensões engendrou-se o processo de independência do Brasil e o governo do Rio de Janeiro, a partir de 1822, expressou a implementação de um projeto de soberania na organização do Estado deste lado do Atlântico. Durante a Confederação do Equador, em 1824, o Gabinete do Rio de Janeiro, ou seja, o Imperador e seus ministros instalados na cidade, era visto pelos confederados com uma face despótica e centralista, não muito diferente daquela apresentada pela dinastia de Bragança antes da independência, quando sediada em Lisboa. Além disso, a maior atenção atribuída àquela cidade e à região sudeste, evidenciada inclusive na Constituição de 1824, deixaria marginalizado o restante do país, em especial o Nordeste.

 

GOVERNO-GERAL

Criado em 1548 em substituição ao sistema de capitanias hereditárias, tinha como finalidade a centralização administrativa e a organização da colônia, bem como auxiliar e proteger todas as capitanias. O primeiro governador-geral foi Tomé de Souza (1549-1553). A cidade de Salvador foi escolhida como sede do governo-geral, por localizar-se em um ponto médio do litoral, o que facilitaria a comunicação com as demais regiões da colônia. Junto ao governador-geral, indicado pelo rei de Portugal, outros cargos foram criados: ouvidor-mor (assuntos judiciais), provedor-mor (questões financeiras), alcaide-mor (funções de organização, administração e defesa militar) e capitão-mor (questões jurídicas e de defesa). Em 1572, o rei de Portugal dividiu o governo-geral em dois centros: um ao norte, com sede na Bahia, e um ao sul, com sede no Rio de Janeiro, na tentativa de aumentar os lucros com o monopólio do açúcar. Essa divisão, entretanto, não surtiu os resultados esperados, tornando-se Salvador, novamente, o único centro administrativo do Brasil em 1578. A partir de 1720, os governadores receberam o título de vice-rei, persistindo o cargo até a vinda da família real para o Brasil em 1808, quando se encerrou esse sistema.

 

GOVERNO PROVISÓRIO

Junta governamental composta por cinco membros oriundos das principais camadas da sociedade, durante a Revolução Pernambucana. Instituído em 8 de março de 1817, integravam-na os seguintes representantes: Domingos José Martins, chefiando o comércio; João Ribeiro de Pessoa de Mello e Montenegro, o clero; Manoel Correia de Araújo, os proprietários de terras; José Luiz de Mendonça, a justiça; e Domingos Teotônio Jorge, o exército. Domingos Teotônio e Francisco de Paula foram os principais líderes militares da rebelião de 1817 e ocupavam, respectivamente, os cargos de general em armas e da divisão. A partir de sua criação, o governo provisório iniciou uma série de medidas, como a criação de cargos de secretário de estado, abolição de impostos sobre lojas e subsídio militar de 160 réis em arroba de carne verde; decretos estabelecendo a liberdade plena de comércio e assegurando a propriedade aos senhores de escravos e a aprovação das leis orgânicas em 7 de abril – onde foram pioneiramente inscritos princípios como o republicanismo, a liberdade de consciência, a tolerância religiosa e um regime tributário menos escorchante. Em virtude da iminente invasão pelas tropas reais e a não-aceitação do acordo de capitulação, a junta governamental foi dissolvida a 18 de maio de 1817, delegando amplos poderes a Domingos Teotônio Jorge. A referência ao Governo Provisório, contudo, sobreviveria à rebelião, influenciando os rebeldes de anos vindouros, frequentemente lembrado tanto pelo poder instaurado – que temia a sua evocação – quanto pelos opositores deste — que ameaçavam com seu retorno.

 

GRÃ-CRUZ DA ORDEM DE SÃO BENTO DE AVIS

Antiga ordem religiosa e militar, fundada no século XII sob a proteção de d. Afonso Henriques, posteriormente à conquista da cidade de Évora, tendo ficado conhecida também como a Milícia de Évora. A ordem, composta de cavaleiros religiosos, adotou a regra beneditina como o voto de pobreza feito pelos seus membros, mas com o passar do tempo foi perdendo seu caráter religioso. A secularização aconteceu formalmente durante o reinado de d. Maria I, que reformou a ordem em 1789. Foi extinta por d. Pedro em 1834, quando deixou de ser uma ordem militar para tornar-se exclusivamente uma ordem honorífica. O mais alto grau da ordem era o de Grã-Cruz, que conferia especial distinção ao possuidor, principalmente aos ‘Grandes’ do reino, que formavam a aristocracia da nobreza de Portugal. A insígnia da ordem é uma cruz verde com as pontas em formato que lembra uma flor-de-lis.

 

GRANADAS

O nome não designa uma gema (pedra preciosa), mas um grupo de gemas, sendo as mais importantes, o piropo, a almandina, a espessartina, a grossulária e a andradita. Conforme a espécie, a granada pode ser incolor, vermelha – que é a mais comum – amarela, marrom, preta e até verde (chamada demantóide). A partir da descoberta de minas de ouro no Brasil, no final do século XVII, as pedras preciosas passaram a ser exploradas, dentre elas, a granada, utilizada na fabricação de joias, como rosários e pulseiras, intensificando o comércio dos ourives. A granada é também um mineral presente em rochas que foram muito utilizadas na construção e ornamentação de edificações.

 

GRANDE CONSELHO PROVISIONAL

O grande conselho das repúblicas confederadas nasceu da necessidade de reunir defensores do projeto revolucionário para comandar os processos de eleição e da própria formação da Confederação do Equador. Na prática, acabou funcionando como colégio eleitoral e câmara legislativa, em caráter provisório. No Ceará, reunido em 26 de agosto de 1824, o grande conselho local, formado por 405 eleitores, contando com a presença de pessoas influentes, pela câmara de Fortaleza, por representantes de comarcas, constitui a República do Ceará, repudiando d. Pedro I e seu “infame projeto de constituição”. Desta mesma assembleia, saiu o grande conselho que iria, nas semanas seguintes, e sob a presidência de Tristão Gonçalves de Alencar Araripe, realizar eleições para o congresso federativo de Pernambuco – que jamais chegou a acontecer – e defender os ideais republicanos da Confederação.

 

GRANDE, ILHA

Descoberta por Gonçalo Coelho em 1502, a Ilha Grande, na baía de Angra dos Reis, foi incorporada à administração colonial portuguesa ainda no século XVI, quando começou a se formar o primeiro núcleo colonizador. Já era, a esta altura, local conhecido de navegantes e contrabandistas franceses, espanhóis, ingleses e holandeses, que costumavam por lá aportar, e, claro, de portugueses, que enfrentaram longos embates com os índios Tamoios pela posse e ocupação definitiva da ilha. A Ilha Grande fez parte da capitania de São Vicente até 1726, quando foi incorporada ao Rio de Janeiro. Alvo constante de ataques de piratas e corsários, serviu de refúgio, local de comércio e abastecimento para navegantes de diversas nacionalidades que lá desembarcavam com frequência, a despeito dos esforços das autoridades da Coroa para reprimir e conter o comércio ilícito. A colonização começou mais efetivamente depois de 1725, com a expansão da cultura açucareira. Outra lavoura que chegou a se desenvolver na ilha foi a do café, embora com menor expressividade do que o açúcar. No entanto, a ilha manteve-se ao longo do período colonial como um ativo local de contrabando e descaminhos, de produtos vindos da Europa, de pau-brasil, e sobretudo de escravos. No início do século XIX, foi elevada a freguesia de Santana de Ilha Grande de Fora e, ao longo do oitocentos, foi um ponto importante de desembarque de escravos africanos, especialmente depois da abolição do tráfico interatlântico

 

GRANDES MOLÉSTIAS

A expressão refere-se às doenças que atingiam as colônias portuguesas no ultramar como a difteria, a varíola, a febre amarela, o cólera e diversos problemas gástricos e dermatológicos devido às péssimas condições de saneamento dos núcleos urbanos. A natureza infectocontagiosa de grande parte dessas moléstias levou a surtos epidêmicos de difícil controle, principalmente nas regiões de clima tropical, onde a insalubridade do clima aliada a péssimas condições sanitárias foi determinante para o desenvolvimento desses males. Nesse cenário, as populações indígenas, sem qualquer imunidade para os vírus e bactérias originários de outros continentes, em especial da Europa, foram dizimadas. Enfermidades como gripe, tuberculose, sarampo, bexiga, caxumba, entre outras, uma vez atingindo essas populações, provocavam um processo de desorganização da vida tribal, levando a um estado de penúria fome e extermínio. O primeiro grande surto epidêmico de varíola registrado no Brasil data de 1562 e 1563, na Bahia. A “peste” espalhou-se desde Ilhéus até o norte, na direção de Pernambuco, matando milhares de índios Tupinambá e dizimando aldeias inteiras. Em carta a Gonçalo Vaz de Melo, em 12 de maio de 1563, o padre jesuíta Leonardo Vale narra que a epidemia era ainda mais violenta entre as tribos que viviam livremente no sertão (Thomas, Georg. Política indigenista dos portugueses no Brasil 1500-1640. SP: Ed. Loyola, 1982). A partir de meados de 1690, começam também a se multiplicar queixas sobre a morte de trabalhadores escravos e livres em função de uma terrível epidemia de bexigas pelo Estado do Maranhão e Grão-Pará.

 

GRANDES TÍTULOS DA SUA CORTE

Os titulares da corte eram os cortesãos, responsáveis pela formação do corpo de nobreza que deveria acompanhar o monarca. Por isso, a 14 de janeiro de 1808, a maior parte dos representantes das casas titulares de Portugal transmigrou para o Brasil com a família real, deixando para trás os seus bens e rendimentos. Em terras brasileiras, passaram a viver à custa de pensões concedidas pelo rei e pagas pela sua Real Fazenda. Os componentes da lista de titulares da corte estiveram em permanente alteração com a chegada de uns, partida de outros e mesmo morte em território brasileiro. Entretanto, destaca-se a concentração da distribuição de títulos no ano de 1818, em razão das comemorações da aclamação de d. João VI como rei de Portugal, Brasil e Algarves.

 

GRANDEZA

O termo grandeza, na nobreza com grandeza, é um tratamento honorífico dos antigos "Grandes do Reino". Originalmente era uma recompensa e reconhecimento por serviços grandiosos prestados à pátria, principalmente em tempos de guerra. A grandeza não era hereditária, mas enobrecia os descendentes dos Grandes. A obtenção de um título com grandeza significava uma promoção em seu título, garantindo a posição de ser um dos ‘grandes’ do reino, e receber um tratamento diferenciado dos outros nobres. Somente nobres de linhagem e de casas muito antigas tinham a possibilidade de alçarem à posição de grandeza.

 

GRANDJEAN DE MONTIGNY, AUGUSTE HENRI VICTOR (1776-1850)

Ver MONTIGNY, AUGUSTE HENRI VICTOR GRANDJEAN.

 

GRÃOS

Ver REFORMA DOS PESOS E MEDIDAS.

 

GRIZOLITA (CRISÓLITA)

Pedra cuja cor varia do amarelo ao verde, conhecida como “pedra de ouro” pelos gregos antigos. Sua jazida mais importante localiza-se no mar Vermelho, na ilha vulcânica de Zebirget, chamada São João pelos cruzados. Na região de Minas Gerais também foram descobertas jazidas dessa gema, que era muito utilizada na arte da joalheria. 

 

GRUMETE

Nas embarcações que partiam de Lisboa, os grumetes estavam na posição mais baixa da hierarquia da marinha portuguesa. Sua idade variava entre nove e dezesseis anos de idade. Com uma taxa de mortalidade dos embarcados calculada em 39%, estima-se que os grumetes representassem algo em torno de 18% do total de tripulantes. A maior parte dos grumetes, que cruzava os mares em direção à colônia, vinha de famílias pobres que moravam nos arredores de Lisboa. Um ou outro era órfão ou fora arrancado de uma família de pedintes. Pero Vaz de Caminha, em sua famosa carta, faz menção a dois grumetes que fugiram, permanecendo nas novas terras conquistadas. Embora não passassem de adolescentes, eles realizavam a bordo todas as tarefas de um adulto, recebendo menos da metade do soldo de um marujo na mais baixa posição. Embora só tivessem que prestar contas ao chamado guardião – cargo abaixo do contramestre – eram explorados por marinheiros e até mesmo por pajens da nobreza. Um grumete poderia fazer carreira na Marinha, mas não iria jamais ascender ao posto de capitão, esses cargos eram destinados a pessoas da nobreza.

 

GUALTEIRAS

Espécie de capuz ou carapuça feita geralmente de pano grosseiro bastante usado pelos alunos da Universidade de Coimbra. Essas gualteiras podiam ser simples ou de rebuço. No Brasil, as gualteiras dos bandeirantes eram em couro de anta.

 

GUARANÁ DO PARÁ

Planta originária da floresta amazônica, o guaraná (Paullinia cupana H.B.K.) foi posteriormente adaptado e cultivado nas demais regiões do país. Narrativas de viagens realizadas no Brasil do século XVIII já registravam a existência da bebida feita do guaraná, destacando seu efeito estimulante e refrescante, bem como suas qualidades fitoterápicas. Mas foi o botânico Carl Friedrich Philipp Von Martius (1794-1868) que descreveu em Viagens pelo Brasil (Amazonas, Pará, 1819) o preparo da bebida de guaraná realizado pelos índios Sateré-Maué, também chamados “povo do guaraná”, que foram os pioneiros na sua domesticação e cultivo. Os Sateré-Maué (Amazonas) tomavam o guaraná reduzido a um pó bastante fino acrescido de água. Só depois, o consumo da bebida se generalizou, passando a fazer parte da dieta alimentar das demais tribos indígenas e dos colonos do Pará, que ralavam o pão de guaraná usando o osso do pirarucu (hióide). O guaraná é um cipó lenhoso (trepadeira) que cresce sobre as árvores, podendo atingir até dez metros de altura. Cultivado possui porte de arbusto em forma de moita, com apenas três metros. As flores são brancas, ou amarelas claras, e os frutos se aglomeram em cachos compridos que, maduros, possuem cor avermelhada e se apresentam entreabertos, exibindo sementes negras. As sementes maduras do guaraná são torradas e moídas, formando uma massa moldável e homogênea de cor cinzenta que, depois da defumação para secagem, escurece com o tempo, devido à oxidação. A partir dessa massa, se produzem os “pães” de forma cilíndrica, elíptica ou oval de consistência duríssima que precisam ser limados para consumo. Pesquisas médicas divulgaram as propriedades medicinais do fruto amazônico: antitérmico, antineurálgico, antidiarréico, estimulante, analgésico e antigripal. O guaraná é hoje comercializado em quatro formas: em rama, em pó, em xaropes e essências para refrigerantes, e o Brasil é praticamente o único produtor do mundo seguido por uma pequena produção comercial realizada na Venezuela e no Peru.

 

GUARDA DE SAÚDE

Na América portuguesa, a insalubridade das cidades coloniais e a precariedade das condições de higiene da população eram uma constante. A chegada da Corte, em 1808, marcou o início de uma série de medidas na área da saúde pública, no intuito de deter o avanço de epidemias. Entre as medidas adotadas estava a inspeção sanitária dos navios, executada pelo Provedor da Saúde. As autoridades demonstraram uma atenção especial com o embarque e desembarque nos portos, instituindo a obrigatoriedade de visitas de oficiais de saúde, os guardas de saúde, aos navios, sobretudo os negreiros, em uma ação de prevenção sanitária. Esta medida também revelava a preocupação com a saúde dos escravos, visto sua importância comercial.

 

GUARDA REAL DA POLÍCIA DE LISBOA

Criada em 10 de dezembro de 1801, no período das reformas militares (1796-1807) promovidas pelo governo português, estava subordinada ao Intendente Geral da Polícia da Corte e do Reino, consequência direta do empenho de d. Rodrigo de Sousa Coutinho (Secretário de Estado da Marinha e Domínios Ultramarinos). Sua composição original tinha como base a divisão em oito companhias de infantaria e quatro de cavalaria, em um total de 642 homens de todas as patentes. Este número sofreu aumento gradativo devido à maior necessidade de segurança na região, principalmente em relação ao contrabando e outros delitos. O primeiro comandante nomeado foi o oficial francês emigrado, conde de Novion, que permaneceu no cargo até 1808, abandonando-o em função de sua colaboração intensa com o exército francês de Junot, durante a invasão a Portugal. Em 1807, após a partida da família real, a Guarda Real recebeu ordens de permanecer em Portugal e recepcionar o general Junot, desde Sacavém até Lisboa. Suas funções mantiveram-se durante a presença francesa na cidade de Lisboa e o conde de Novion chegou a ser nomeado Governador das Armas da cidade. Os soldados que se recusaram a colaborar foram demitidos. Após a ocupação francesa, o comando da Guarda Real de Polícia foi substituído, sendo nomeado o major do regimento da cavalaria, Filipe de Sousa Canavarro.

 

GUARDA-MOR

Autoridade colonial administrativa, nomeada pelo rei, tinha por função fiscalizar, repartir e distribuir datas – propriedades concedidas pela Coroa portuguesa para exploração mineral; evitar o contrabando do ouro e contabilizar o número de escravos que trabalhavam nas minas. O cargo foi instituído em 1702, com a criação da Superintendência das Minas – que substituiu a Provedoria das Minas, responsável pela administração e fiscalização das minas de ouro, prata e cobre descobertas na América portuguesa.

 

GUARDA-SOL

Armação de varetas móveis, revestida de tecido, usada para proteção do sol. Originou-se há cerca de quatro mil anos, existindo registros de seu uso na China, Assíria, Egito e Grécia. O guarda-sol foi modificado pelos chineses, que o impermeabilizaram com cera e tinta para proteger contra a chuva. Com o passar dos anos, se tornou também peça de moda, sendo incorporado na cultura europeia e, posteriormente, no Brasil, sobretudo nos séculos XVIII e XIX, quando a seda passou a ser seu principal revestimento.

 

GUERRA COM OS ÍNDIOS

Pelo Tratado de Madri, Portugal cedeu a Colônia do Sacramento aos espanhóis, e recebeu em troca os Sete Povos das Missões, situados à margem oriental do rio Uruguai. Os jesuítas e os índios missioneiros deveriam deixar as reduções, transferindo-se para as terras espanholas, levando apenas seus móveis e bagagens. Portugal ficaria com as vilas, as aldeias, as casas e a propriedade do terreno. Contando com o apoio dos jesuítas, os índios resistiram à tropa de comissários encarregada da demarcação de limites no sul, o que resultou no conflito armado que teve início em 1754. Munidos de canhões e de uma tática militar bastante aperfeiçoada, os missioneiros venceram os portugueses e os espanhóis. Mas, em 1756, os exércitos ibéricos se uniram e venceram os mais de mil e setecentos índios que lutaram sua última batalha, a de Caiboaté, contra a demarcação dos limites na região. A Coroa portuguesa pretendeu transformar as missões em núcleos de povoamento com base na mestiçagem entre luso-brasileiros (especialmente os soldados) e índios, visando ocupar as possessões recentemente adquiridas e aumentar a população dos súditos do rei. Para tanto, os missioneiros deveriam desocupar as reduções migrando para os territórios portugueses. Isto se deu através de uma política de atração dos índios Guarani, com base na legislação indigenista pombalina, que gerou vários fluxos migratórios. As aldeias de São Nicolau (Rio Pardo) e a dos Anjos (Viamão) foram criadas para alocá-los, embora parte da população missioneira tenha permanecido nas reduções. No final do século XVIII, Portugal sofreu perdas consideráveis na contenda que envolveu as Coroas ibéricas na demarcação de limites na América do sul. Em 1761, ocorreu a anulação oficial do Tratado de Madri e os Sete Povos permaneceram sob a administração dos jesuítas espanhóis até 1768 quando então os inacianos foram expulsos do continente. Em 1777, com o Tratado de Santo Ildefonso, Portugal perderia definitivamente a Colônia do Sacramento, mas não recebeu nenhuma compensação territorial, conforme ocorrera em 1750. Quando a Espanha, pressionada pela França, declarou guerra a Portugal ("guerra das laranjas"), em fevereiro de 1801, criou a oportunidade para que os luso-brasileiros renovassem as suas pretensões sobre os Sete Povos. A conquista e a anexação das reduções jesuíticas renderam à Coroa portuguesa um acréscimo territorial responsável pelo desenho do atual estado do Rio Grande do Sul, um aumento populacional e a incorporação do patrimônio missioneiro representado pelas estâncias das reduções onde se criavam vários tipos de gado vacum. A conquista foi um empreendimento organizado por colonos luso-brasileiros, com o apoio do poder régio, dos párocos que passaram a se ocupar dos serviços religiosos nas reduções e parte considerável dos missioneiros, descontentes com a administração secular dos espanhóis após a expulsão dos inacianos.

 

GUERRA DO PACTO DE FAMÍLIA (1762)

Também conhecida como Guerra Fantástica, eclodiu na Europa em 1762, envolvendo as Coroas de Portugal e Espanha. Inserido no contexto da Guerra dos Sete Anos, este conflito foi decorrente da recusa lusitana em aderir ao Terceiro Pacto de Família (aliança militar na qual se reuniriam todos os soberanos da família Bourbon), participação que implicaria no rompimento das relações com a Inglaterra. Como consequência, Portugal pediu auxílio à Inglaterra, enquanto a Espanha recorreu à França, motivando o ataque dos espanhóis do rio da Prata ao sul do Brasil e culminando com o envolvimento das Coroas ibéricas na Guerra dos Sete Anos.

 

GUERRA DOS SETE ANOS (1756-1763)

Série de conflitos de dimensão mundial, teve início com a disputa do território da Silésia, entre a Áustria e a Prússia. Este embate ampliou-se quando França e Inglaterra, impérios rivais que disputavam o controle comercial e marítimo e a soberania dos territórios da América do Norte e das Índias, se aliaram a Áustria e a Prússia, respectivamente. O conflito culminou com a vitória dos ingleses e com a transferência da maior parte das colônias francesas para a Grã-Bretanha, em especial aquelas localizadas na América do Norte. Em função da política de alianças, Portugal e Espanha igualmente sofreram as consequências desse conflito. Aliada da França, a coroa hispânica perdeu a Colônia do Sacramento, que havia sido ocupada pelas tropas espanholas, sendo obrigada a devolver o território a Portugal com a derrota de sua aliada em 1763.

 

GUERRA JUSTA

Conceito amplamente utilizado na Idade Moderna, referia-se ao embate entre os povos que professavam a fé católica contra aqueles que não a seguiam, considerando-se, assim, a guerra contra os infiéis como indubitavelmente justa, remontando à época das lutas contra os mouros, presentes na Península Ibérica entre os séculos VIII e XV. No Brasil, quando a luta contra os indígenas serviu para criar ou assegurar condições de vida aos ocupantes brancos, não se pôs em dúvida se a guerra contra os índios era justa. A legislação colonial produziu muitos dispositivos que justificavam a prática da guerra justa, mesmo quando pretendiam proteger os índios de abusos e cativeiros ilícitos. A lei de 20 de março de 1570 do rei d. Sebastião ou a lei de 10 de setembro de 1611 proclamavam, em comum, a liberdade dos índios, permitindo, no entanto, o seu cativeiro em caso de guerra justa, determinada pelo governador-geral, ou ainda o seu resgate em determinadas situações. A guerra justa mostrou-se, pois, como justificativa para escravização dos indígenas, valendo-se dos argumentos da salvação das almas e da condenação da antropofagia que, embora não fossem juridicamente reconhecidos, serviam de reforço à sua ideia principal. No contexto da empresa colonial lusitana, lançou-se mão da guerra justa diante da recusa à conversão à religião católica, das ações hostis contra os portugueses e da quebra de pactos celebrados. Esse objetivo fica claro em um trecho de Apontamento de coisas do Brasil (1558) em que o padre Manuel da Nóbrega escreve: “Sujeitando-se o gentio, cessarão muitas maneiras de haver escravos mal havidos e muitos escrúpulos, porque terão os homens escravos legítimos, tomados em guerra justa, e terão serviço e vassalagem dos índios e a terra se povoará e Nosso senhor ganhará muitas almas e S.A. terá muita renda nesta terra, porque haverá muitas criações e muitos engenhos já que não haja muito ouro e prata.” Assim, como sublinhou Pedro Puntoni, “o debate sobre a guerra justa não pode ser tomado como uma luta pela justiça (...) mas antes de mais nada como uma busca de legitimação”. (A guerra dos bárbaros: povos indígenas e a colonização do sertão nordeste do Brasil, 1650-1720. S: Hucitec, 2002.)

 

GUERRILHA [COMPANHIAS DE]

Desde o início de 1824, durante a Confederação do Equador, Manuel de Carvalho Paes de Andrade demonstrou preocupação com uma reorganização militar da região nordestina. Em janeiro, um decreto por ele emitido determinava a reestruturação das companhias de guerrilhas e que o capitão comandante de cada companhia seria nomeado pelo próprio presidente de província. Outros postos dentro de cada companhia, embora indicados pelo capitão, deveriam ser confirmados pelas autoridades civis. Embora seus membros se originassem também de outras forças armadas, as guerrilhas não se integravam ou subordinavam a nenhum outro corpo militar. Seu objetivo era manter a ordem pública geral, manter a segurança local, vigiar estradas, controlar o fluxo de pessoas. Poderiam, contudo, em caso de necessidade, atuar como uma força militar convencional, caso em que se subordinavam ao Governador das Armas. O governo de Pernambuco também convocou corpos de milícias e determinou um recrutamento geral de indivíduos capazes em algum ofício, mesmo artesãos presos, para se engajarem em obras e tarefas especializadas.

 

GUINÉ-BISSAU

Possessão portuguesa desde 1479, sua ocupação se efetivou com a fundação da vila de Cacheu, em 1588, e o estabelecimento da capitania geral da Guiné portuguesa, em 1630. Em finais do século XVII edificou-se a fortaleza de Bissau, período em que os franceses começavam a afirmar a sua presença na região, e foi restabelecida a capitania de Bissau (1753). A região da Guiné foi uma das principais áreas de abastecimento de mão de obra escrava para as colônias ultramarinas. A designação Guiné acompanhou a expansão marítima portuguesa, englobando diversos pontos da costa ocidental, como Congo, Costa da Mina, Angola e Benguela, nomeando as primeiras conquistas da África.

 

GURGEL, SALVADOR CARVALHO DO AMARAL (1762-1812)

Nascido em Parati, onde viveu até 1787, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde tirou carta de praticante de cirurgia. Nesse mesmo ano seguiu para Vila Rica e envolveu-se com a Conjuração Mineira. Acabou condenado a degredo em Catalá e no dia 22 de maio de 1790 Salvador, um dos mais jovens entre os inconfidentes, embarcou, em companhia de Tomás Antônio Gonzaga, José Aires Gomes, Vicente Vieira da Mota, Vitoriano Gonçalves Veloso, João da Costa Rodrigues e Antônio de Oliveira Lopes, na galera Nossa Senhora da Conceição e Princesa de Portugal, com destino à ilha de Moçambique. Mantendo-se na ilha, conseguiu trabalhar como cirurgião-mor do regimento de infantaria, sob as ordens do físico-mor João Domingos Tosco, médico piemontês formado em Turim, a quem Salvador viria substituir. Em 1793 chegou à África o governador e capitão-general dom Diogo de Sousa Coutinho que entendeu que os degredados condenados para outras localidades da África oriental não poderiam mais permanecer em Moçambique. Assim, em 29 de novembro de 1793, Salvador foi mandado servir no destacamento do porto de Inhambane, ao sul da capitania em companhia do coronel José Aires Gomes. Praticou a medicina, mas também se dedicou ao comércio e recebeu o cargo de vereador no Senado da Câmara, tornando-se presidente e almotacé em 1803. Salvador viveu em Inhambane por pouco mais de onze meses, retornando à ilha de Moçambique em 1804 para voltar a exercer o cargo de cirurgião-mor do regimento de infantaria. O inconfidente Salvador Carvalho do Amaral Gurgel morreu na ilha de Moçambique em 10 de outubro de 1812.

 

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