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Carta sobre a deplorável situação das colônias na Ásia

Escrito por cotin | Publicado: Quarta, 07 de Novembro de 2018, 18h11 | Última atualização em Domingo, 27 de Dezembro de 2020, 01h59

Cópia da carta do secretário de Estado da Marinha e Ultramar Martinho de Melo e Castro para o marquês de Lavradio, d. Luís de Almeida Portugal, vice-rei do Brasil, relatando sobre a deplorável situação em que as colônias portuguesas na Ásia se encontravam, e sobre as ordens da rainha ao saber do ocorrido, estabelecendo novas leis, regulações e ordens. D. Maria I ordenou que fosse indispensável o reestabelecimento da Marinha de Goa, que se formassem novas tropas, e que fosse mandada para o porto de Goa uma nau com o capitão de guerra e mar, o capitão general do Estado da Índia, os ministros de Justiça, os oficiais de mar e terra e as tropas, petrechos e provisões de guerra, que fariam escala no Rio de Janeiro para que lá tomassem as provisões necessárias para a viagem.

Conjunto documental: Correspondência da Corte com o Vice Reinado
Notação: códice 67, vol. 5
Datas-limite: 1769-1778
Título do fundo ou coleção: Secretaria de Estado do Brasil
Código do fundo ou coleção: 86
Argumento de pesquisa: Goa, cidade de; Goa, porto de
Data do documento: 18 de fevereiro de 1774
Local: Lisboa
Folha(s): 38

 

Leia esse documento na íntegra

Ilustríssimo e excelentíssimo senhor tendo chegada a real presença de sua majestade a deplorável solução em que se acham os seus domínios na Ásia, e querendo o mesmo senhor socorrer aquele Estado, entendeu que as forças mais sólidas eficazes que lhe podia mandar eram as leis, estatutos e regulações, e ordens, que presentemente lhe remete. Para com elas estabelecer no mesmo Estado e uma nova, e bem depurada forma de governo político, civil e econômico, acomodada e conforme as circunstâncias de seus atuais habitantes.

Entendeu igualmente sua majestade que para segurar, e fazer respeitáveis aqueles domínios portugueses, lhe era indispensavelmente necessário levantar a tropa e Marinha de Goa do abatimento, e relaxações a que se acha reduzida, e com este fim ordenou que os dois regimentos de guarnição[1] daquela capital se reduziram ao [ilegível] das tropas estabelecidas neste reino, e que além deles se levantassem, mais um regimento de infantaria[2], outro de artilharia[3], e que os ‘Sipais[4] se formassem sobre o pé, e disciplina do corpo extinto dos voluntários reais.

Com estas ordens, e este fim mandou sua majestade sair deste porto a nau por invocação Nossa Senhora Madre de Deus, comandado pelo capitão de mar e guerra Joseph Sanches de Brito, e a fragata Nossa Senhora da Guia comandada pelo capitão mor de mar e guerra Isidoro de Moura, as quais levando a seu bordo o governador, capitão general do Estado da Índia d. José Pedro da Câmara, os ministros de Justiça, os oficiais de mar e terra; a tropa e os petrechos e provisões de Guerra, que vão embarcados na mesma nau, e fragata[5], fizessem escala pelo porto do Rio de Janeiro para nele tomarem os refrescos e provisões necessárias, e demorando-se no referido porto a preciso termo de três semanas o mais, no fim deles prosseguiram a sua viagem para Goa.

Nesta inteligência ordena majestade que vossa excelência mande assistir a referida nau, e fragata com tudo quanto lhes for preciso, removendo qualquer embaraço que possa ocasionar-lhes maior dilação, e dando todas as providências que julgar convenientes para que não experimentem a menor falta. Advirto porém a vossa excelência que entre as provisões, que se meterem a bordo, senão deve permitir de sorte [ilegível] gado vacum, por ter sua majestade defendido este artigo como sua perniciosa relaxação de sua Marinha, que reduz as naus e fragatas, que só devem servir para a guerra, em imundos currais, para uso, ou abuso das suas equipagens. Guarde a vossa excelência. Palácio da Nossa Senhora da Ajuda 18 de fevereiro de 1774 = Martinho de Melo e Castro = Senhor Marquês de Lavradio.

 

[1] Unidade militar composta de dois ou mais batalhões que está encarregada de guarnecer uma posição específica dentro do território, em caso de guerra, ou de proteger alguma fortificação.

[2] É a mais antiga das armas militares, geralmente, a que tem um dos maiores, senão o maior efetivo. Caracteriza-se pelo combate a pé. Até o século XVII, o exército português era constituído basicamente de duas armas: a cavalaria e a infantaria. A nobreza do reino pertencia, essencialmente, à cavalaria. Porém, os conhecimentos militares que mais se desenvolviam nessa época, eram os ligados à artilharia e à engenharia, que ainda não constituíam armas independentes, mas faziam parte da infantaria.

[3] Nas forças militares, é o conjunto de combatentes que se destina à guarda e manejo dos materiais de guerra, como canhões, projéteis e veículos destinados ao seu acondicionamento e transporte. Seu desenvolvimento corresponde ao aperfeiçoamento e modernização do Exército, em destaque a partir de meados do século XVII. A engenharia manteve-se atrelada à artilharia até fins do Setecentos e início do Oitocentos. Os artilheiros eram considerados, também, engenheiros militares, recebendo formação acadêmica nessa área. Foi criada no Brasil, em 1696, na então capital São Salvador, uma escola de artilharia e arquitetura militar, marcando a preparação e treinamento de militares na colônia brasileira.

[4] Sipai ou sipaio. Soldado de origem indiana que fazia parte das tropas portuguesas. Portugal manteve forças de sipaios no seu Estado português da Índia e, mais tarde, em outros dos seus territórios ultramarinos, sendo o maior contingente de sipaios estabelecido em Moçambique. Foram utilizados em larga escala pelos ingleses em suas atividades militares e comerciais no Oriente.

[5] As fragatas eram navios de guerra que, apesar de terem o mesmo comprimento, eram mais estreitas, o que lhes conferiam maior agilidade e velocidade frente às naus. Eram usadas em missões de escolta ou reconhecimento territorial e movidas por propulsão à vela. Em meados do século XIX, se desenvolveram as fragatas mistas e a vapor.

 

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