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Inventário de Ana Joaquina Deschamps

Escrito por Super User | Publicado: Quinta, 12 de Janeiro de 2017, 16h51 | Última atualização em Quarta, 30 de Dezembro de 2020, 00h39

Inventário das roupas de Ana Joaquina Deschamps, tendo como testamenteiro e inventariante seu marido José Ribeiro Monteiro. A lista dos bens continha vestidos de seda de cores preta, branca, verde mar, algumas com fios pretos com salpicos amarelos, outras de chita e algodão; saias de chita, estamenha (tecido grosseiro de lã) e paninho; um robissão (sobrecasaca) de pano verde escuro; um capote de baetão escuro; duas mantas de fios de seda, e outra de marquesa de filó branco; oito calças de cetim; duas casacas de pano preto velhas; dez calças de ganga e metim usadas; seis coletes de diversos fustões; doze camisas de paninho; dez pares de meias curtas e compridas, e um par de meias de seda.

Conjunto documental: Ana Joaquina Deschamps
Notação: caixa 4014, proc. 420
Datas-limite: 1816-1817
Título do fundo ou coleção: Inventários
Código do fundo ou coleção: 3J
Argumento de pesquisa: habitação, vestuário
Data do documento: 17 de agosto de 1816
Local: Rio de Janeiro
Folha(s): 24 a 26v

ROUPA

Avaliação da roupa[1] do casal da falecida dona Ana Joaquina Deschamps de quem é testamenteiro e inventariante seu marido José Ribeiro Monteiro.
Um vestido de filó de seda[2] verde mar com flores de matiz oito mil réis...........8#000
Dois ditos de filó de seda preto e branco quatro mil e oitocentos réis...........4#800
Um dito de sedinha branca com renda de filó de seda oito mil réis...........8#000
Um dito de tafetá preto dois mil réis...........2#000
Quatro ditos de sedas diferentes velhos dois mil quinhentos e sessenta réis...........2#560
Um dito de filó preto com salpicos amarelos mil novecentos e vinte réis...........1#920
Nove ditos de diversas chitas e de algodão[3] e seda quatro mil trezentos e vinte réis...........4#320
[...]
Uma saia de chita para montar a cavalo quatrocentos réis...........#400
Sete ditas brancas de paninho dois mil e oitocentos réis...........2#800
Seis ditas de bretanha[4] usadas três mil oitocentos e quarenta réis...........3#840
[...]
Um capote de baetão[5] escuro e usado mil e seiscentos réis...........1#600
Duas mantas de filó de seda preta e branca quatro mil quatrocentos e oitenta réis...........4#480
Uma dita de renda de linha com defeito seiscentos réis...........#600
Um xale de filó de seda branco dois mil réis...........2#000
Um dito de filó branco de algodão quatrocentos e oitenta réis...........#480
Quatro ditos de sedas diferentes usados dois mil quinhentos e sessenta réis...........2#560
[...]
Um lenço de três pontas de filó de seda azul claro bordado de matiz usado seiscentos e quarenta réis...........#640
[...]
Três pares de meias de seda branca usadas e um de luvas de filó de seda mil novecentos e vinte réis...........1#920
Quatorze ditos de meias de algodão usados mil e quatrocentos réis...........1#400
Cinco ditos de luvas de pelica[6], e de paninho quinhentos réis...........#500
Dois mandriões[7] branco, e de chita...........#400
Dezesseis camisas de paninho velhas três mil e duzentos réis...........3#200
Dois guarda sóis[8] pequenos quebrados seiscentos e quarenta réis...........#640
Quatro leques de seda bordados e de marfim[9] dois mil e quatrocentos réis...........2#400
Três ditos de papel com varetas de pau trezentos réis...........#300
Dois toucados[10] de filó de seda com suas penas e alguns ramos de flores mil réis...........1#000

 

[1] No Brasil, durante o período colonial, a circulação monetária era reduzida, e o acesso a bens manufaturados restrito, em função, sobretudo, dos altos preços resultantes das importações. Nesse sentido, a comercialização de bens usados, como utensílios domésticos e roupas, era muito difundida, tornando-se comum a presença destes artigos nos inventários do período. Após serem submetidas à avaliação, as roupas eram vendidas ou doadas a parentes e amigos do falecido.

[2] Tecido fino e transparente, semelhante ao tule, geralmente engomado e tramado em forma de rede de furos. É uma espécie de cassa mais fina, muito usado como ornamento em vestidos da classe abastada da sociedade colonial brasileira.

[3] Tecido de grande circulação e usos variados, tido contemporaneamente como representativo da cultura brasileira por suas estampas coloridas e tropicais, a chita é feita de algodão rústico, acabamento engomado e tramas simples. Originaria da Índia, de onde provém o nome chitra, que significa “matizado” em sânscrito, a chita teria chegado a Europa a partir da expedição de Vasco da Gama e foi utilizada na confecção de roupas para os escravos e na produção de saias para as mulheres brancas no uso privado. A manufatura e exportação da chita e do algodão devem também ser compreendidas na perspectiva do exclusivo colonial e do comércio entre a praça do Rio de Janeiro e o reino, uma vez que é a partir da metrópole que se dá a sua distribuição na Europa. Como indica o historiador João Fragoso, em um quadro no qual a América portuguesa era o principal comprador dos produtos do reino, em 1815, mais da metade da produção de chita e saias era comprada fora de Portugal. Obtido a partir do filamento sedoso que envolve as sementes do algodoeiro, o algodão está na base da fabricação de diversos tipos de tecidos, tanto de alta, quanto de baixa qualidade. Tecidos grosseiros de algodão foram empregados para ensacar gêneros agrícolas ou para o vestuário dos escravos, respeitando o alvará de 1785, de d. Maria I, que liberou essa produção e, em contrapartida, proibiu as manufaturas de tecidos finos no Brasil, incluída aí a chita. Chita e algodão participam ainda do processo de trocas que se faz do Brasil para a costa africana e que envolve o comércio atlântico de escravos. Ainda na perspectiva do ultramar e de sua participação no motor da economia portuguesa, os panos de algodão, provenientes da Índia, foram matéria prima para a primeira fase da revolução industrial, no final do século XVIII. (FRAGOSO, João. Mercados e negociantes imperiais: um ensaio sobre a economia do império português (séculos XVII e XIX). História: Questões & Debates, Curitiba, n. 36, p. 99-127, 2002).

[4] Tecido muito fino de linho ou de algodão fabricado na região da Bretanha, França. Consumido por uma camada social mais restrita, com ele eram produzidos fronhas, lençóis, toalhas de mesa, guardanapos, toalhas de mão, camisas masculinas e femininas. O nome bretanha generalizou-se, designando também tecidos similares, mas de qualidade inferior, como a bretanha de Hamburgo, que era de uso exclusivo das escravas.

[5] Tecido de lã ou algodão, grosseiro de várias espessuras. Era muito utilizado nas vestimentas das escravas, principalmente o baetão preto, para a confecção de saias. O tecido também era empregado na fabricação de colchas, cobertores, cobertas e outras peças do vestuário, como capas e casacos.

[6] Pele fina de ovelha ou carneiro, curtida e preparada, usada na confecção de luvas e calçados. Seu uso na fabricação de luvas femininas foi muito difundido na Europa e no Brasil, sobretudo na cidade do Rio de Janeiro, após a transferência da corte portuguesa.

[7] Casaco curto de tecido leve, para uso doméstico de crianças e mulheres.

[8] Armação de varetas móveis, revestida de tecido, usada para proteção do sol. Originou-se há cerca de quatro mil anos, existindo registros de seu uso na China, Assíria, Egito e Grécia. O guarda-sol foi modificado pelos chineses, que o impermeabilizaram com cera e tinta para proteger contra a chuva. Com o passar dos anos, se tornou também peça de moda, sendo incorporado na cultura europeia e, posteriormente, no Brasil, sobretudo nos séculos XVIII e XIX, quando a seda passou a ser seu principal revestimento.

[9] Armação de varetas móveis, revestida de tecido, usada para proteção do sol. Originou-se há cerca de quatro mil anos, existindo registros de seu uso na China, Assíria, Egito e Grécia. O guarda-sol foi modificado pelos chineses, que o impermeabilizaram com cera e tinta para proteger contra a chuva. Com o passar dos anos, se tornou também peça de moda, sendo incorporado na cultura europeia e, posteriormente, no Brasil, sobretudo nos séculos XVIII e XIX, quando a seda passou a ser seu principal revestimento.

[10] Termo que designa um conjunto de adornos para a cabeça ou para os cabelos das mulheres e dos homens tais como presilhas, arranjos, véus, perucas e, principalmente, chapéus, cujas formas e tamanhos variaram conforme o período e lugar. No Brasil, seguindo a moda francesa, sobretudo a partir da transferência da corte portuguesa, o uso de chapéus era requisito obrigatório para as damas frequentarem saraus, festas e cerimônias religiosas. A preocupação feminina com os toucados se dava em função dos variados penteados que faziam nos cabelos conservados compridos. Para tal, utilizavam-se de pentes, arames, cabelos humanos e até farinha e madeira em pó para fixar o modelo escolhido. No que se refere à indumentária masculina, o toucado, via de regra, era o chapéu, fabricado em geral na Inglaterra, país que ditou a moda para os homens durante o século XIX.

 

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